sábado, 24 de março de 2012

SOBRE A IRONIA DA VIDA E DA MORTE

No começo da batalha, choramos nos desesperamos, dia após dia, semanas após semanas, e toda a dor que sentimos parece crescer continuamente e não ter um fim. E só há lágrimas em nós, porque possuímos a capacidade de sofrer, sentir e suportar o sofrimento.
Mas com o passar do tempo, já conseguimos adormecer à noite, e já não choramos dias inteiros. A dor passa a ser real, e por isso mesmo suportável. As lágrimas, ainda molham nossos rostos, vez ou outra, mas nada que uma boa maquiagem não disfarce.
Passam-se os anos, e o sofrimento que sentimos e, principalmente, causamos as pessoas que mais amamos, vão aos poucos minando nossas forças, diminuindo nossas esperanças e nos lembrando constantemente do fim.
 E num belo dia, você está observando os desenhos em nuvens, está vendo um filme qualquer na TV, escutando sua música preferida, ou simplesmente como eu, observando minha mãe cozinhar, e então, uma pequena e única lágrima escorre em seu rosto.
Você percebe que aquela é sua última lágrima, e que mais nada no mundo poderá fazer você voltar a chorar. As suas lágrimas, finalmente, secaram para sempre. Você perdeu a sua capacidade de sofrer e chorar. Sua capacidade de odiar e amar. Sua capacidade de sentir dor e suportar. Está tudo acabado.
Chegou-se ao final da batalha, você passa a não mais correr contra o tempo, apenas deixa-o correr. Passa-se a aceitar a sua REALIDADE, e não mais fantasiá-la. Você já não chora mais pelos filhos que não teve, pelo casamento que não viveu, pela casa que não chegou a construir, ou pela bela carreira que você teria aos quarenta anos, porque sabe que não vai estar lá para isso. Você deixa de esperar por um milagre, de fantasiar que num passe de mágica, os cientistas americanos ou alemães vão anunciar a bendita “CURA” na semana que vem. E isso tudo é triste, é muito triste, mas é uma tristeza diferente, é uma tristeza que não te machuca mais, que traz em si certa paz.
Então, no final da sua imensa e dolorosa batalha, você passa ver a morte não mais como uma terrível inimiga, e sim como uma amiga através da qual finalmente se conseguirá o alívio e descanso merecidos.
E nesse exato momento, você passa a não mais lutar contra o inevitável, não lutar contra a morte, e sim, desejá-la. Passa-se a desejar que a mesma ocorra da maneira mais rápida e menos dolorosa possível. Deseja-se apenas parar de respirar.
 E você que fez tanto esforço para viver, ironicamente, sorri ao dar as mãos à morte!
A vida e morte são irmãs e as duas são absolutamente irônicas!
Bom eu cheguei nesse estágio, cheguei ao fim do meu caminho, a minha última lágrima já caiu, e estou apenas observando o tempo passar. E por ironia ou não, estou me sentindo tão bem!

NEO

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