sábado, 24 de março de 2012



NOVEMBRO CHUVOSO

É uma manhã de sábado chuvosa, em um dia qualquer de novembro, pela vidraça eu vejo a chuva e o som do vento balançar as árvores. O céu é cinza. As paredes são cinza. E até minha alma está cinza nesse momento.
Depois de eu muito insistir, e gastar todas as palavras que tinha, convenceu-se em ir embora! Fiquei feliz. Está sendo um novembro chuvoso aqui no sul, os ventos gelados vindos do mar, nos corta a carne, feito navalhas. A capital gaúcha parece chorar em dias assim.
Há um silêncio absoluto aqui. Mas não é um silêncio triste ou inquietante, é um silêncio companheiro e consolador. Gostos desses dias, dessa chuva que me acalma, estou só há dois dias, mas acho que nunca estive tão bem. É bom não precisar conversar sobre coisas banais, não ter que sorrir sem querer, não precisar fingir uma alegria que não sinto. É bom comer em silêncio, ouvir o barulhinho encantador da chuva caindo, chorar em silêncio. Há uma PAZ incrível, nisso tudo.
Eu a amo, sem dúvida, mas não a quero aqui. Não suporto ver seu semblante piedoso, há lágrimas em seus olhos, embora não chore mais. Já me acostumei com a solidão, e fico melhor quando estou só.
Não é desamor, é lealdade.
Esse lugar foi construído para acolher a dor, o desespero, as lágrimas, o sofrimento humano. Há som de gritos, soluços e gemidos. Os olhares estão sempre acompanhados de uma profunda tristeza.  E nessas paredes abriga-se a paz pesada da morte.
Não há flores, nem a doçura dos sorrisos, não se escuta músicas, nem se vê a alegria de vida nos olhares, não há esperança, e por mais que o sol brilhe lá fora, aqui dentro é sempre escuro e frio.
Preciso dela longe de mim, não posso vê-la aqui, me faz mal. Quero vê-la feliz, e aqui não há espaço para felicidade.
 Não é que não sinta sua falta, mas sua ausência deixa-me mais tranqüila. Não é desamor, ao contrário, é amor demais. Porque, TE AMO, não a quero do meu lado, nesse meu triste e amargo fim.
Deixe-me aqui, na companhia de meus livros, no silêncio absoluto desse quarto, na doce companhia dessa fria chuva de novembro.
Não podes me acompanhar nessa nova caminhada. Tu fizeste tua parte, mãe querida. Daqui, eu sigo sozinha.
NEO (Nov/09)

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