É uma manhã de sábado
chuvosa, em um dia qualquer de novembro, pela vidraça eu vejo a chuva e o som
do vento balançar as árvores. O céu é cinza. As paredes são cinza. E até minha
alma está cinza nesse momento.
Depois de eu muito
insistir, e gastar todas as palavras que tinha, convenceu-se em ir embora!
Fiquei feliz. Está sendo um novembro chuvoso aqui no sul, os ventos gelados
vindos do mar, nos corta a carne, feito navalhas. A capital gaúcha parece
chorar em dias assim.
Há um silêncio absoluto
aqui. Mas não é um silêncio triste ou inquietante, é um silêncio companheiro e
consolador. Gostos desses dias, dessa chuva que me acalma, estou só há dois
dias, mas acho que nunca estive tão bem. É bom não precisar conversar sobre
coisas banais, não ter que sorrir sem querer, não precisar fingir uma alegria
que não sinto. É bom comer em silêncio, ouvir o barulhinho encantador da chuva
caindo, chorar em silêncio. Há uma PAZ incrível, nisso tudo.
Eu a amo, sem dúvida,
mas não a quero aqui. Não suporto ver seu semblante piedoso, há lágrimas em
seus olhos, embora não chore mais. Já me acostumei com a solidão, e fico melhor
quando estou só.
Não é desamor, é
lealdade.
Esse lugar foi
construído para acolher a dor, o desespero, as lágrimas, o sofrimento humano.
Há som de gritos, soluços e gemidos. Os olhares estão sempre acompanhados de
uma profunda tristeza. E nessas paredes
abriga-se a paz pesada da morte.
Não há flores, nem a
doçura dos sorrisos, não se escuta músicas, nem se vê a alegria de vida nos olhares,
não há esperança, e por mais que o sol brilhe lá fora, aqui dentro é sempre
escuro e frio.
Preciso dela longe de
mim, não posso vê-la aqui, me faz mal. Quero vê-la feliz, e aqui não há espaço
para felicidade.
Não é que não sinta sua falta, mas sua ausência
deixa-me mais tranqüila. Não é desamor, ao contrário, é amor demais. Porque, TE
AMO, não a quero do meu lado, nesse meu triste e amargo fim.
Deixe-me aqui, na
companhia de meus livros, no silêncio absoluto desse quarto, na doce companhia
dessa fria chuva de novembro.
Não podes me acompanhar
nessa nova caminhada. Tu fizeste tua parte, mãe querida. Daqui, eu sigo
sozinha.
NEO (Nov/09)
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