Aquele fim de junho estava sendo muito frio, ela olhou pela janela
o céu nublado e escuro, ajeitou a touca vermelha e preta na cabeça, fechou
melhor o grosso casaco de lã escuro, esfregou as mãos ao sair pela porta, era
difícil de respirar naqueles dias.
Atravessou a rua com passos lentos, a caminhada não era longa,
devia demorar uns dez ou quinze minutos até a estação – detestava manhãs
nubladas e frias – sempre atrasava! Hum... Aquele cheiro de café e baunilha que
vinha da padaria da esquina e lembrou-se dos cafés aos sábados à tarde com seu
velho pai de cabelos brancos e ar compassivo, sentiu uma profunda saudade de
velhas memórias... Então pensou num relance – Na volta vou comprar rosas
vermelhas para papai! – Eis a única coisa que unia ela ao seu pai – O gosto
comum por rosas vermelhas – Porque será DEUS que as rosas são vermelhas?! –
Pensou consigo e sentiu certa angústia por não saber tantas respostas quanto
gostaria de saber!
Viu o garoto passar correndo à sua frente, viu os cabelos louros
brilhando – nem percebeu seu olhar assustado e a arma em sua mão– e sorriu,
pensando na energia e incrível disposição do menino sob o frio intenso,
sentiu-se viva e bem consigo mesma – ergueu a gola do casaco e ouviu o grito do
menino louro, e sentiu apenas a bala atravessar sua carne, havia gosto de
sangue na boca e lembrou-se das rosas vermelhas.
O dia seguinte estava lindo, havia um sol magnífico sobre as altas
copas das árvores iluminando o vivo verde dos gramados, quando colocaram seu
caixão na fria cova. Os amigos choraram sua partida e em seu túmulo deixaram
dezenas de rosas vermelhas – suas preferidas.
NEO – 26/06/09.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Obrigada por comentar!